Homenagem ao dia da Mulher 2015

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Quem bebeu a água do rio?


Na fazenda de Helena tinha um rio que era chamado de Meu Rio.
Meu Rio era chamado assim por passar apenas na fazenda de Helena. Ele não ia para nenhum outro rio e nem mesmo ia para o mar. Helena não deixava Meu Rio ser de mais ninguém.
Pobre rio, Meu Rio de Helena. Um dia desses partiu, sumiu, ninguém mais viu.
Teria ele ido a fazenda de Marina?
Teria ele ido ao cercado de Roberval?
Teria ele pegado o ônibus que passa toda tardinha na estrada?
Teria ele pulado sobre o trem que corre e grita nos trilhos ali pertinho?
Não se sabe para que rumo foi o Meu Rio de Helena. As pessoas vizinhas não podiam vê-lo, Helena não deixava. Então como pode ser? Como pode crer que elas beberam de um só gole suas águas mansas..
Há quem diga que a ponte bebeu Meu Rio. Ponte tem boca? Como é a boca da ponte? Não sei fazer. Você sabe?
Há quem diga que a porco bebeu Meu Rio. Porco tem boca? Como é a boca da porco? Não sei fazer. Você sabe?
Há quem diga que o filhote do porco bebeu Meu Rio. Filhote de porco tem boca? Como é a boca do filhote do porco? Deve ser pequena, mas não sei fazer. Você sabe?
Há quem diga que a vaca bebeu Meu Rio. Vaca tem boca? Como é a boca da vaca? É grande ou pequena? Não sei fazer. Você sabe?
Há quem diga que o filhote da vaca bebeu Meu Rio. Filhote de vaca tem boca? Como é a boca do filhote da vaca? Deve ser pequena, mas não sei fazer. Você sabe?
Há quem diga que o cavalo bebeu Meu Rio. Cavalo tem boca? Como é a boca do cavalo? Sua boca deve ser grande, ou não? Ainda assim, não sei fazer. Você sabe?
Há quem diga que o filhote do cavalo bebeu Meu Rio. Filhote de cavalo tem boca? Como é a boca do filhote do cavalo?  Sei não, você sabe?
Há quem diga que outros bichos beberam Meu Rio. Os outros bichos têm bocas ou bicos? Como são?  Você sabe fazer? Eu não sei, mas posso aprender.
Há quem diga que o homem bebeu Meu Rio. Homem tem boca? Como é a boca do homem? Ele fala tanto! Será grande  a boca dele? Tomara que você saiba fazer.
Há quem diga que os filhos do homem beberam Meu Rio.  Que tal desenhar as bocas dos filhos do homem para ver se realmente eles beberam as águas mansas de Meu Rio.
Helena, sozinha, procura Meu Rio. Não o encontra. Ora ela chora. Ora ela sorri. Ora ela grita chamando por Meu Rio que só a ela pertencia.
Todos se calam. Todos fecham suas bocas para não ajudar Helena a encontrar Meu Rio que era só dela.
Mas alguém viu sim e falou para a menina, tirando-a de tal aflição. Dona Aurora, mãe de Helena, sabe que caminho Meu Rio seguiu.
_ Ele voou, evaporou. Foi-se formar com as nuvens novas águas e cair em outras fazendas e ser de todos. Meu Rio não gosta de ser só seu. Ele quer saciar a sede de mais pessoas e animais. Ele quer fazer parte da história das outras crianças. Ele quer compartilhar mais alegrias e além do mais, Meu Rio, não era um rio e sim uma lagoa.

 

Ed Nobre
Nossas palavras - um jeito simples de ler a vida. Editora Ética. Imperatriz. 2011 . p.90/91


  

Nenhum comentário:

Postar um comentário